Namoro na TV
A princípio, lá na década de 1990, fez muito sucesso no SBT, um quadro do Programa dominical de Sílvio Santos, chamado Namoro na TV. Nele, solteiros e solteiras se apresentavam para arrumar uma namorada ou namorado. A cada episódio, se formava ou não um casal. Conduzido pelo apresentador mais amado do Brasil, e após algumas entrevistas intimidadoras para, além do visual, mostrar quem eram os candidatos, Silvio Santos perguntava: “É namoro ou amizade?” Pergunta dificílima de responder, dado que o tempo de convivência entre pretendentes nunca foi suficiente para essa tomada de decisão. Frequentemente, me lembro que ríamos em família, quando a resposta era, “Hoje não, Seo Sílvio”, como se amanhã pudesse ser.
Todo o roteiro do programa era construído para gerar o suspense de com quem cada candidato ficaria. Essa fórmula funcionava e atraia a audiência. Uma hora de entretenimento e diversão, sem grandes questionamentos ou julgamentos. Porque a sociedade aceitava esse padrão perfeitamente, e participar de um programa como esse, de grande repercussão e prestígio, fazia com que sempre houvessem interessados em se expor na TV, com risco de conseguir um namorado ou de levar um fora.
Hoje, a proposta do Namoro na TV seria um fracasso. A diversidade de casais e relacionamentos é tão grande que o universo do programa atrairia um público muito pequeno. E televisão é mídia de massa, precisa agradar a muita gente. Vive de âncoras, como apresentadores, cá entre nós, muitas vezes politicamente incorretos, que se sobrepõem à história de cada encontro.
O Crush Perfeito
E tem mais, eu quero escolher minha programação no momento que for melhor pra mim, com liberdade para “maratonar” e de reassistir o trecho ou episódio que mais gostar. Vou para meu provedor streaming e chego ao O Crush Perfeito, uma recente produção nacional, com o mesmo propósito, cujo cerne do roteiro é proporcionar o encontro entre pessoas para formarem casais, homos, heteros, binários ou não binários… São seis episódios baseados na experiência de conhecer alguém, na intimidade, em um restaurante e depois um drink. Os encontros são gravados e editados de forma que as histórias se cruzam e geram, da mesma forma que no programa de auditório, a curiosidade de saber com quem o personagem principal vai ficar.
Em se tratando da tal comunicação interna, só em alguns casos foi possível migrar do Namoro na TV para O crush perfeito. Essa comparação me fez refletir sobre a comunicação interna e o engajamento de colaboradores. Há pelo menos três ou quatro décadas que esse processo vem evoluindo dentro das empresas. Mas, na minha opinião, há muita presença de mind set ultrapassado, onde o que prevalece é somente a voz da organização. Ou seja, o que a empresa precisa comunicar, sem empatia com seu público interno, usando soluções de massa e pouco customizadas para uma gama de perfis distintos de colaboradores.
A transformação necessária
Enfim, se fosse possível, eu gostaria que a comunicação interna nascesse hoje. No meio da pandemia e da crise econômica. E surgindo assim, como processo de relacionamento e troca de conhecimento e informação entre pessoas interessadas em estarem juntas e entrosadas. Tudo seria muito diferente!
É disso que precisamos, abandonar jeitos de fazer antiquados ou meramente operacionais, para dar espaço para o relacional, o vivo, o essencial. Quando o processo de comunicação é natural, funciona direitinho. Pense na revolução que precisa ser feita e sofra menos com a comunicação. Ela existe para nos atender e não para ser uma tarefa isolada, feita por poucos, sem verba e estratégia. Dê lugar para o novo, coloque as pessoas no centro desta transformação e seja o diretor deste novo roteiro, para que surjam conversas genuínas e necessárias.
Dessa forma, fizemos essa reflexão e nos preparamos para atuar de um novo jeito. Em breve, lançaremos uma plataforma sobre a Experiência do Colaborador, construída a muitas mãos e incorporando soluções para algumas dessas dores, por um time multifuncional e parceiro. Estamos animados com essa nova perspectiva e espero que vocês também!
Claudia Cezaro Zanuso
sócia-diretora da Duecom Comunicação